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E, nesta base simples e fácil, os nossos políticos (dos partidos que temos), usam estes quereres com profundo entusiasmo, com prodigiosas construções mediáticas, com um instinto, adquirido ao longo de anos, cultivado pelos membros activos e dirigentes dos nossos partidos.
Esta extraordinária cultura de pseudo-causas, de defesa do óbvio, de manipulação das mais elementares aspirações de todos os seres humanos, é debitada em longos e pretensiosos discursos, que soam bem a quem ouve (até um dia), mas que na realidade nada dizem em termos de satisfação dos quereres de todos nós.
Se analisarmos, mesmo superficialmente, a grande maioria dos discursos debitados todos os dias pelos nossos políticos profissionais, chegaremos facilmente a uma mesma conclusão: o que os políticos nos dizem (salvo algumas poucas e notáveis excepções) são apenas truísmos vazios de soluções ou, até, de intenções.
Discursos muitas vezes bem elaborados, com elevada qualidade na construção, na escolha das palavras, na colocação de acentos e de parágrafos, mas sem uma única proposta concreta de solução, sem uma única indicação do caminho a seguir, sem compromissos (reais), mas cheios de um nada que nos vai distraindo e iludindo.
Os nossos políticos vão acentuando, destacando, os nossos quereres.
As respostas são as perguntas. Só que expostas de outra maneira.
É a cultura dos pontos, de exclamação e de interrogação.
Com os primeiros expõem a pergunta (o querer), com o segundo julgam os políticos (salvos as excepções, poucas) que nos contentam (ou será que alguns deles pensam que estão mesmo a dar respostas reais?).
Com as ideologias debitadas pelas esquerdas e direitas passa-se o mesmo. Todos nos dão respostas que não contêm, realmente, nada de concreto.
Ideologias que, aparentemente, querem o mesmo para todos nós, que aparentemente nos dão resposta a todos os nossos quereres.
Mas onde é que estão as soluções? Como é que vão satisfazer os nossos quereres? Onde é que estão as respostas concretas, da esquerda ou da direita, para a solução dos nossos quereres (dos nossos problemas)?
A grande maioria destes políticos que temos e que são fruto de nós próprios, falam muito, escrevem, discursam, respondem a entrevistas com duas ou três regras fundamentais e “sagradas” (para eles):
- Ganhar ou, pelo menos não perder votos (dentro do partido ou na sociedade).
- Manter viva a fidelidade dos seguidores e colaboradores por quem distribuem benesses).
- Insistir nas questões mais mediáticas, trabalhando a “roupagem”, fazendo considerações que sabem ressoarem bem nos ouvidos dos cidadãos e, com a repetição constante, as respostas serão entendidas, pelo povo, como verdadeiras soluções, boas e credíveis soluções.
Os discursos vão continuar, as entrevistas nos media não param, os colóquios não esmorecem:
Os nossos políticos não querem mudar nada, não querem reformar (a sério) o sistema, não querem “revoluções”, nem grandes perturbações.
Ninguém quer arriscar, ninguém se atreve a deitar abaixo e construir de novo. Nem nos respectivos partidos, nem muito menos no estado.
Lutam para manter e manterem-se, não querem, nem podem (?), arriscar pondo em causa regalias, privilégios, honras que os sustentam e os mantêm no topo da pirâmide do poder.
Mas o que é que será deste país e dos quereres de todos nós (quase todos) daqui a 10 ou 20 anos?
Os portugueses não desaparecerão tão cedo. Mesmo com uma taxa de natalidade baixa ainda duraremos muitos anos.
Mas o que é que terá acontecido para satisfazer os nossos quereres? Será que vamos ter um estado previdência impecável, verdadeiramente para todos, será que vamos ter e receber boas e justas respostas? Será que vamos ter empregos para todos? Será que vamos ter um nível de vida dentro da média europeia? Ou vamos continuar a ouvir e eleger políticos que aos nossos quereres respondem nada.
in Jornal "Diário de Notícias", "André Correia", 31 Agosto 2010
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