"A Verdadeira República" ¹
"O primeiro dever do republicano é contar com os demais homens, os demais partidos, as demais ideias, e praticar portanto na vida política a regra suprema de toda a moral, que consiste em nos considerarmos a nós próprios como sendo um termo de uma relação, – como uma parte de um conjunto, – de que os outros partidos, as outras ideias, as outras pessoas, são o outro termo e a outra parte. Só com uma asa não se pode voar. Cumpre, não só aceitar a diversidade, mas ter o amor da diversidade e o desejo [sincero] de que ela exista. Ora, se as aparências não erram muito, há chefes que procederam na nossa política como se considerassem o seu partido o único termo com que se deve contar, a única asa para o voo da Ideia, o soberano absoluto de Portugal: e poder-se-ia dizer ao cabo de contas que muitas das dificuldades da nossa República, e que as maiores desordens da nossa política, – vieram em suma a derivar-se de aí.
Não será desse erro que provém um outro, nos homens influentes dos nossos partidos: o de suporem que, desde que governe o seu partido, há verdadeira República na nossa terra, que basta que eles dominem para que a República exista, e que basta que eles não dominem para que não exista República?".
¹ António Sérgio, Ensaios, Tomo III, Sá da Costa Editora, 1972, pp.163-164. [Excerto de texto escrito em Paris em 1927.]
"O primeiro dever do republicano é contar com os demais homens, os demais partidos, as demais ideias, e praticar portanto na vida política a regra suprema de toda a moral, que consiste em nos considerarmos a nós próprios como sendo um termo de uma relação, – como uma parte de um conjunto, – de que os outros partidos, as outras ideias, as outras pessoas, são o outro termo e a outra parte. Só com uma asa não se pode voar. Cumpre, não só aceitar a diversidade, mas ter o amor da diversidade e o desejo [sincero] de que ela exista. Ora, se as aparências não erram muito, há chefes que procederam na nossa política como se considerassem o seu partido o único termo com que se deve contar, a única asa para o voo da Ideia, o soberano absoluto de Portugal: e poder-se-ia dizer ao cabo de contas que muitas das dificuldades da nossa República, e que as maiores desordens da nossa política, – vieram em suma a derivar-se de aí.
Não será desse erro que provém um outro, nos homens influentes dos nossos partidos: o de suporem que, desde que governe o seu partido, há verdadeira República na nossa terra, que basta que eles dominem para que a República exista, e que basta que eles não dominem para que não exista República?".
¹ António Sérgio, Ensaios, Tomo III, Sá da Costa Editora, 1972, pp.163-164. [Excerto de texto escrito em Paris em 1927.]
Sem comentários:
Enviar um comentário