terça-feira, 31 de agosto de 2010

De Prostituta a Deputada

Chama-se Gabriela Leite e é candidata ao Congresso Nacional brasileiro. No início da década de 90, fundou a Rede Brasileira de Prostitutas. Sem pudores sobre o passado, a sua autobiografia intitula-se "Filha, Mãe, Avó e Puta".


Gabriela Leite venceu todos os preconceitos e decidiu contar a Lusa como abandonou o curso de Sociologia da Universidade de São Paulo e uma vida de classe média para se tornar prostituta. Agora, é candidata ao Congresso nacional, com o slogan "Puta Deputada".

No início da década de 90, Gabriela Leite fundou a Rede Brasileira de Prostitutas, que já conta com 32 associações pelo Brasil, e no Rio de Janeiro, criou a organização não governamental "Davida" para lutar pelos direitos das prostitutas.

Em 2005, Gabriela idealizou a grife "Daspu" para garantir receitas às prostitutas. O nome é uma provocação à "Daslu", a maior loja de artigos de luxo do Brasil.

E agora, após 30 anos de militância, o seu objetivo é conquistar uma vaga como deputada federal. Com um slogan nada convencional "Puta Deputada", a sua campanha eleitoral pelo Partido Verde (PV, da candidata presidencial Marina Silva, ex-ministra do Ambiente de Lula da Silva) levanta a bandeira de temas tabus na sociedade brasileira, como a legalização dos profissionais do sexo, os direitos sexuais, a defesa do aborto e o casamento homossexual. "O meu voto é de opinião, não é de multidão", admite.

"Ó meu deus, uma prostituta que fala"

"Comecei uma onda de movimento de prostitutas. Trabalhei na Boca do Lixo em São Paulo, na zona boémia de Belo Horizonte e cheguei à Vila Mimosa no Rio de janeiro. As pessoas me consideravam meio maluca por estar fazendo isso", disse à Lusa, Gabriela Leite.

"Ó meu deus, uma prostituta que fala", reproduz Gabriela parte das críticas que recebeu ao longo de sua vida. E, para responder ao preconceito, escreveu uma . A sua autobiografia intA sua história de vida já vai servir de guião para uma longa-metragem de ficção e de tema para o teatro.

Sem dinheiro e com apoio dos amigos, a campanha é quase toda feita pela internet, pois a "Puta Candidata" tem apenas 10 segundos no programa eleitoral televisivo.

"Há muitas pessoas que simpatizam com a campanha. Mas tem gente que fala: 'o mundo está de cabeça para baixo, uma prostituta se candidatando', tem outro que disse que 'só faltava isso na política'. Qual é o problema? Acima de puta eu sou mulher", argumenta.

Falta presença feminina no Congresso Nacional

Gabriela Leite critica a falta da presença feminina no Congresso Nacional, onde as mulheres representam apenas seis por cento dos parlamentares. "Vai ser difícil, mas acho que vale a pena para dar uma sacudida. Vai ser uma baita luta política e eu gosto de fazer tudo com desejo e tesão. Acho que isso vai ser um baita tesão", afirmou a sorrir.

A campanha pouco inusitada e o pioneirismo de sua ação foram o que motivou a socióloga Verônica Machado a tornar-se voluntária da campanha. "Eu acredito na Gabriela, dou o meu apoio incondicional. É diferente porque ela tem uma proposta, tem opinião, não tem medo de brigar e de se expor. Ela quebrou paradigmas a vida inteira", defendeu Verônica.

Para a socióloga, "todo o profissional do sexo, independentemente do género, é um cidadão e tem o direito de se manifestar".

Rozzi Brasil, também se diz eleitora da Puta Deputada: "Eu acho ótima essa ideia. O que chama a atenção é a coragem dela dizer que é prostituta declarada e concorrer a um cargo público."

Para a seguidora de Gabriela Leite, a sociedade "vive ainda com uma mentalidade muito antiga, em que causa espanto uma prostituta".

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