Notaram a subtileza com que Passos Coelho alterou a estratégica - não só a tática - do partido? Afinal, quem representava a mudança, a renovação, a regeneração... agora quer ser de centro-esquerda! O habitual. O mesmo filme de sempre.
Passos Coelho, afinal, prefere estar no centro-esquerda! A lembrar o consulado de Durão Barroso...Onde está a mudança?
1. Para já, importa sublinhar uma mudança de estratégia do PSD que passou despercebida aos analistas políticos.
2. Passos Coelho, desde que assumiu a liderança do PSD, tentou inculcar a ideia de que representa um novo partido, um novo PSD: mais à direita, mais liberal nos aspetos económicos e sociais. Nesta lógica, lançou o programa de revisão do partido e o projeto de revisão constitucional. No fundo ao propor alterações ao texto da Lei Fundamental de teor manifestamente liberal - como a substituição da justa causa como condição de despedimento ou nas áreas da saúde ou da educação -, Passos Coelho pretendeu estabelecer a rutura com o PSD tradicional. Criar-se-iam, então, dois momentos históricos na vida do partido: a.pc (antes de Passos Coelho) e o d.pc (depois de Passos Coelho). Esta estratégia resultou? Só por puro faccionismo ou parcialidade se poderia responder afirmativamente. Não, não - a estratégia de Passos Coelho não foi a mais acertada.
3. Na verdade, o próprio acaba de reconhecê-lo implicitamente. Notem bem qual foi a reação do PSD à proposta do governo de criar um fundo de despedimento: à partida, se houvesse lógica e coerência na atuação da direcção de Passos Coelho, o PSD não teria a opor à medida. Até por um argumento de puro raciocínio dedutivo: quem quer o mais no âmbito da legislação laboral (supressão do conceito de justa causa), também quer o menos (criação de um fundo de despedimento, flexibilizando mercado de trabalho). Mas não: o PSD, em contrapartida, apresentou na Assembleia da República um projecto-lei sobre empresas sociais - como apoiar empresas que exerçam papel importante no combate a problemas sociais, como o desemprego, exclusão, educação. Ao mesmo tempo, não se pronunciou longamente sobre o mérito da solução governamental. Ou seja, o PSD Passos Coelho criticou o Governo pela esquerda, colocando o enfoque no lado social e deixou o Governo queimar-se sozinho no ponto da alteração dos critérios de fixação da indemnização devida por despedimento. E Pedro Marques Lopes - conselheiro político de Passos Coelho e que cujas declarações (muito) normalmente antecipam ou explicam de forma muito simpática as decisões do líder do PSD - já ensaiou essa tentativa de demonstrar que este PSD é diferente do PSD tradicional... mas agora, dizendo que é de centro-esquerda!
4. Independentemente dos méritos eleitorais de tal opção estratégica - as quais analisaremos amanhã, no rescaldo da reunião do grupo parlamentar - é, no mínimo, revelador de completa navegação à vista na direção de Passos Coelho: a estratégia - e não só a tática - muda de acordo com as sondagens. Ora, um partido da oposição, que anda a vangloriar-se por ser um partido mais à direita do que o habitual, mais liberal, de mudança completa... e, depois, quando percebe que as coisas não correm tão bem como desejavam, afinal, têm um ataque súbito de esquerdismo! Já todos querem ser de centro-esquerda! A montanha pariu um rato - dirão muitos dos apoiantes de Passos Coelho. E muitos portugueses. Este PSD já começa a cheirar muito ao PSD Durão Barroso - ambos, no início, eram muito diferentes, com uma agenda liberal e depois converteram-se ao sistema, ao politicamente correto da vida portuguesa.
5. Em suma, seria bom que me explicassem (Pedro Marques Lopes e outros iluminados passistas) qual a diferença entre este PSD e os outros do passado... quando, afinal, chegam à conclusão de que são de centro-esquerda! Será que a direção Passos Coelho teve um transtorno de personalidade de repente? Porque, então, terei de afirmar que Passos Coelho andou a perder um ano inteiro, a brincar aos liberais, às revisões da Constituição, ao ser-se a mudança...E a revisão do programa do partido vai acabar como começou (liberal, direita) ou em consonância com o clima de esquerdismo súbito que se vive na direcção do partido? Era só o que faltava o PSD apresentar um programa liberal - e depois contradizer-se a ele próprio nas medidas que sugere na Assembleia da República. Era só o que faltava... Pressinto que a revisão do programa do partido vai acabar como sempre: será um conjunto de declarações de princípios, de intenções, sem nada de substancial...
por João Lemos Esteves
... entretanto, as sondagens começam a descer no PSD.
Passos Coelho, afinal, prefere estar no centro-esquerda! A lembrar o consulado de Durão Barroso...Onde está a mudança?
1. Para já, importa sublinhar uma mudança de estratégia do PSD que passou despercebida aos analistas políticos.
2. Passos Coelho, desde que assumiu a liderança do PSD, tentou inculcar a ideia de que representa um novo partido, um novo PSD: mais à direita, mais liberal nos aspetos económicos e sociais. Nesta lógica, lançou o programa de revisão do partido e o projeto de revisão constitucional. No fundo ao propor alterações ao texto da Lei Fundamental de teor manifestamente liberal - como a substituição da justa causa como condição de despedimento ou nas áreas da saúde ou da educação -, Passos Coelho pretendeu estabelecer a rutura com o PSD tradicional. Criar-se-iam, então, dois momentos históricos na vida do partido: a.pc (antes de Passos Coelho) e o d.pc (depois de Passos Coelho). Esta estratégia resultou? Só por puro faccionismo ou parcialidade se poderia responder afirmativamente. Não, não - a estratégia de Passos Coelho não foi a mais acertada.
3. Na verdade, o próprio acaba de reconhecê-lo implicitamente. Notem bem qual foi a reação do PSD à proposta do governo de criar um fundo de despedimento: à partida, se houvesse lógica e coerência na atuação da direcção de Passos Coelho, o PSD não teria a opor à medida. Até por um argumento de puro raciocínio dedutivo: quem quer o mais no âmbito da legislação laboral (supressão do conceito de justa causa), também quer o menos (criação de um fundo de despedimento, flexibilizando mercado de trabalho). Mas não: o PSD, em contrapartida, apresentou na Assembleia da República um projecto-lei sobre empresas sociais - como apoiar empresas que exerçam papel importante no combate a problemas sociais, como o desemprego, exclusão, educação. Ao mesmo tempo, não se pronunciou longamente sobre o mérito da solução governamental. Ou seja, o PSD Passos Coelho criticou o Governo pela esquerda, colocando o enfoque no lado social e deixou o Governo queimar-se sozinho no ponto da alteração dos critérios de fixação da indemnização devida por despedimento. E Pedro Marques Lopes - conselheiro político de Passos Coelho e que cujas declarações (muito) normalmente antecipam ou explicam de forma muito simpática as decisões do líder do PSD - já ensaiou essa tentativa de demonstrar que este PSD é diferente do PSD tradicional... mas agora, dizendo que é de centro-esquerda!
4. Independentemente dos méritos eleitorais de tal opção estratégica - as quais analisaremos amanhã, no rescaldo da reunião do grupo parlamentar - é, no mínimo, revelador de completa navegação à vista na direção de Passos Coelho: a estratégia - e não só a tática - muda de acordo com as sondagens. Ora, um partido da oposição, que anda a vangloriar-se por ser um partido mais à direita do que o habitual, mais liberal, de mudança completa... e, depois, quando percebe que as coisas não correm tão bem como desejavam, afinal, têm um ataque súbito de esquerdismo! Já todos querem ser de centro-esquerda! A montanha pariu um rato - dirão muitos dos apoiantes de Passos Coelho. E muitos portugueses. Este PSD já começa a cheirar muito ao PSD Durão Barroso - ambos, no início, eram muito diferentes, com uma agenda liberal e depois converteram-se ao sistema, ao politicamente correto da vida portuguesa.
5. Em suma, seria bom que me explicassem (Pedro Marques Lopes e outros iluminados passistas) qual a diferença entre este PSD e os outros do passado... quando, afinal, chegam à conclusão de que são de centro-esquerda! Será que a direção Passos Coelho teve um transtorno de personalidade de repente? Porque, então, terei de afirmar que Passos Coelho andou a perder um ano inteiro, a brincar aos liberais, às revisões da Constituição, ao ser-se a mudança...E a revisão do programa do partido vai acabar como começou (liberal, direita) ou em consonância com o clima de esquerdismo súbito que se vive na direcção do partido? Era só o que faltava o PSD apresentar um programa liberal - e depois contradizer-se a ele próprio nas medidas que sugere na Assembleia da República. Era só o que faltava... Pressinto que a revisão do programa do partido vai acabar como sempre: será um conjunto de declarações de princípios, de intenções, sem nada de substancial...
por João Lemos Esteves
... entretanto, as sondagens começam a descer no PSD.
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