sábado, 25 de julho de 2009

Um Gay assumido no Parlamento

A Federação de Coimbra protesta pela imposição de Paulo Campos em número três

Miguel Vale de Almeida poderá ser o primeiro deputado gay assumido.
O antropólogo Miguel Vale de Almeida já pensava no coming out, mas foi o caso Candal o impulso decisivo que o levou a escrever no jornal "Público", onde era cronista: "Graças a esta homofobia salazarenga posso assumir em público que eu, lisboeta, cronista, gay, e nos antípodas políticos de Paulo Portas, decidi não votar no PS." Estávamos em 27 de Setembro de 1995, o dia em que o professor no ISCTE assumiu que era gay e que, três anos antes de fundar o Bloco de Esquerda, tencionava votar PS.

Agora Vale de Almeida protagoniza um facto histórico: candidato no 7.º lugar na lista de Lisboa do PS, tornar-se-á o primeiro homossexual assumido a entrar no Parlamento português — pela mão do PS e não do Bloco de Esquerda, apesar de o mesmo Miguel Vale de Almeida, fundador e antigo dirigente do Bloco, de onde saiu em 2006, ter pedido sempre para não ser posto em lugar elegível. Aliás, o Bloco nunca fez eleger, nem isso vai acontecer nas listas deste ano, nenhum deputado activista gay.

Integrado no mais moderado dos movimentos que fundaram o Bloco de Esquerda (Política XXI, de Miguel Portas), Vale de Almeida afastou-se em 2006 por se sentir "saturado de uma organização partidária". Agora confessa que "estava em afastamento ideológico". "Sempre tive uma grande dificuldade em lidar com aqueles aspectos da esquerda radical. E vivia num impasse: ou ficava a bater-me para fazer vingar as minhas ideias ou saía."

Concorre como independente nas listas do PS — "não tenho nenhum interesse em juntar-me a um partido e em fazer carreira política". "Continuo a achar que estas pessoas todas que estão entre o Bloco de Esquerda e o PS gostavam de ver um BE mais moderado e um PS mais à esquerda", diz.

Quando chegar ao Parlamento, a primeira das suas tarefas será protagonizar o combate pelo casamento entre homossexuais, caso o PS tenha maioria.

"É natural que o PS espere que eu tenha um papel nisso. É uma luta importantíssima, para arregaçar as mangas", diz Vale de Almeida, que, no entanto, não quer ser acantonado exclusivamente a essa questão. "Gostava de me dedicar às questões de direitos, liberdades e garantias, da discriminação em geral."

Inês de Medeiros foi a outra surpresa das listas do PS, indicada para terceira em Lisboa, uma lista encabeçada por Jaime Gama e Vera Jardim.

Os nomes foram ontem aprovados pela comissão política, que só começou depois de fechada esta edição. Havia conflitos no Porto — onde Pedro Baptista, representante da minoria derrotada, ameaçava interpor uma providência cautelar contra a lista aprovada na distrital — e em Coimbra, onde a insistência de Sócrates em colocar Paulo Campos, Secretário de Estado Adjunto e das Obras Públicas, no terceiro lugar, estava a incendiar os ânimos. A distrital queixa-se de que, se Paulo Campos ficar com o terceiro lugar, os três primeiros candidatos não são de Coimbra, o que se torna aborrecido para combater o PSD liderado por um Paulo Mota Pinto nascido e criado na cidade. A número 1 da lista do PS de Coimbra é Ana Jorge e a número 2 é a actual deputada Antónia Almeida Santos.

No Porto ficou Alberto Martins, o líder parlamentar, em primeiro lugar, com Teixeira dos Santos, o Ministro das Finanças, em segundo. Foi o caso mais polémico da feitura das listas, porque a distrital pretendia que Teixeira dos Santos fosse o número 1. A hipótese de o ministro liderar Aveiro também ficou afastada: será Maria de Belém Roseira a número 1 por Aveiro.

Em Setúbal, para um distrito mais obreirista, foi o Ministro do Trabalho e da Solidariedade. Em Beja previa-se que repetisse Pita Ameixa, o líder distrital que já tinha sido cabeça em 2005. O mesmo em Bragança, onde Mota Andrade deverá ser novamente o número 1. Em Vila Real é Pedro Silva Pereira a liderar e em Santarém Jorge Lacão. Para Leiria foi enviado Luís Amado, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, que foi rejeitado pela anterior distrital pela qual se candidatou, Viana do Castelo. Em Viana, os dirigentes locais exigiram ser eles a indicar o número 1 — que será a actual deputada Rosalina Martins.

António José Seguro deverá repetir a eleição pelo distrito de Braga. Na Guarda é o presidente da federação local, José Albano. Em Évora e Portalegre estava previsto que repetissem Carlos Zorrinho e Miranda Calha, assim como José Junqueiro em Viseu. Nos Açores lidera Ricardo Rodrigues e na Madeira Bernardo Trindade.
Mas Sócrates ainda pode mudar de ideias.

in "i", 25 Julho 2009

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